sexta-feira, 17 de julho de 2009

Por que a poesia em tempos de indigência?

Por que a poesia em tempos de indigência?


O Essencial

Alta tecnologia. Velocidade. Informação. Indigência!
Homens por robôs, prosas por chats, cartas por e.mails, o contato humano sendo perdido dia-a-dia.
Uma informação acaba de ser dada e, dentro de segundos, ela já é velha. Mal há tempo para assimilação. O mundo é engrenagem. Já não existe noite e dia. Sabe aquele dia de 72 horas que de vez em quando todo mundo pede a Deus? Quem disse que Ele não ouviu nossas súplicas? Ele está aí, em toda nossa tecnologia, nós é que não o acompanhamos!
Existe uma correria, uma porção de regras a serem obedecidas do abrir ao fechar dos olhos, a violência por dinheiro, por fama, por nada. Uma neurose, decorrente do medo desse mundo, da pressa e da falta de confiança que acaba sendo gerada assombra as pessoas e fazem-nas agir como se existisse em torno delas uma camada que as separam do resto do mundo e que, embora pareçam livres, estão presas, algo que fazem-nas deixar de viver suas próprias vidas. Livres porque perante à lei e à sociedade assim somos reconhecidos, porém presos em nossas vontades, individualidades e desejos, que em meio a tudo isso, acabam sendo sufocados.
Falo de pessoas indigentes em tempos de indigência, de pessoas que vivem na mais completa pobreza, na miséria, de pessoas a quem falta o essencial; e o essencial não são roupas, comidas, bebidas, moradia, assistência médica: isso é condição de vida. O essencial são os valores humanos: a amizade, o carinho, o amor, a gratidão, o companheirismo, a solidariedade, a religiosidade, o respeito, a cidadania, a dignidade, a honra.
Na medida em que perde seus valores, o ser humano perde também sua identidade, mas através da poesia revela os gritos e desejos mais profundos de sua alma. Eis que a poesia é mágica: transforma o real no imaginário e o imaginário no fantástico e retrata cada ser humano, único em idéias e sentimentos... sentimentos esses que em muitas vezes são de dores, de decepções, de desilusões, de desesperança, de fracasso, sentimentos vazios... mas também podemos falar de sentimentos cheios, que transbordam, que contagiam, que rejuvenescem, como por exemplo explicar o mistério de um dia de inverno, o lirismo de uma manhã de primavera, a ternura de um entardecer de outono e as expectativas de uma noite enluarada de verão, da emoção de um casal que observa o brilho ofuscante das luzes elétricas numa noite de garoa, do contentamento ao rever alguém muito querido e matar a saudade, da alegria proporcionada por um aperto de mão ao se fazer as pazes, na intensidade do sono pesado de um menino que brincou o dia inteiro, no contentamento de um homem que chega exausto do trabalho e encontra seu cão a receber-lhe no portão e a balançar-lhe o rabo, na satisfação que um pai de família tem em ver sua mesa farta.
A poesia é a esperança do Homem e existe para que perceba as coisas que realmente significam, para guiá-los de volta aos seus valores, pois somente esse resgate será capaz de transcender a barreira dos olhos do Homem e chegar ao seu coração. Sem a poesia e sem esses valores, a cada segundo assassinaremos a esperança daqueles que ainda acreditam que entre trovas e versos, uma caneta e um papel, um monitor e um teclado existam palavras, frases ou histórias que sirvam de conforto e alimento para fazê-los fugir da condição de indigentes.

Rita Bordoni

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