sexta-feira, 20 de maio de 2016

Conforto e inocência

Com os dias passando, ando percebendo algumas peculiaridades dos meios que ultimamente frequento, com relações aos brancos, porque, como libertário, anarquista, não tenho problemas com compartimentos de “tribos” ou “turmas”, eu simplesmente ando aonde agrego e sou agregado de alguma forma... Entretanto, sou negro, comecei minha vida intelectual no rap, mas vivi e vivo em um bairro predominantemente branco, o que nunca embranqueceu meu jeito de pensar e de agir. Mas ultimamente, frequento muitos lugares que toca rock branco (nunca é negro), bares da rapaziada “descolada” ou moto clubes, ou seja, ambientes que ando observando, não aceitam muito bem o negro, toleram, mas não aceitam, mas, vejo, que esses mesmos conhecidos que me chamam para esses determinados lugares, rejeitam ir em lugares que os negros predominam, alegando o som, que serão discriminados, coisas que eu passo corriqueiramente, andando nas ruas do meu bairro ou em quaisquer ruas por ai. Vejo certa “compartimentalização” nas atitudes dos brancos que são meus conhecidos, vejo que o racismo não é tão esquecido como parece na cabeça deles, porque, vejo que eles tem a nítida noção e não a nescitude sobre o que eu enfrento ao longo dos meus dias, vejo que, a dor do racismo é compreendida de alguma forma, por isso preferem manter-se em suas zonas de conforto e não enfrentar um mundo negro por mais amistoso que o pareça, ou seja, não são tão inocentes como dizem que são sobre o racismo e muitas atitudes provam que quando dizem que “está na minha cabeça” é porque mesmo racistas passivos, não querem um negro revoltado com o sistema por perto, como se todo assunto em pauta fosse étnico vindo de mim, assim que detecto uma frase ou atitude racista, e, pasmem, muitas eu relevo, senão já teria espancado uma rapaziada. O sistema continua injusto com o negro, mas se levantar, erguer a cabeça, ser um negro politizado como Clovis Moura um dia disse, para eles é uma afronta, nós por nos declararmos contra o racismo, não tolerar as atitudes racistas, deixarmos de ter a síndrome de “poodle de madame” é confrontá-los, é criar inimigos, enquanto a postura destes é de que “preto quando não faz na entrada, faz na saída”, ou seja, quando se é amigo, se fica acolorado, fica-se de “alma branca”, não é visto como negro, e se defende, eles já se colocam na defensiva da ofensa gerada pelo povo deles. Já vi ambientes negros hostis, até mesmo com o negro desconhecido, porque muitos ditos militantes têm a mesma síndrome do opressor de julgar o outro negro como inferior a ele, ou seja, mesma atitude introjetada que o branco propõe para si, mas não é o caso normalmente de ambientes de entretenimento como um samba, um “Black”, muito pelo contrário, vejo os brancos que existem nestes ambientes, mesmo que poucos, muito a vontade, até mais a vontade que muito negro, pois, ainda perdura na cabeça do branco a ideia de senhor de engenho no meio da festa da senzala em que ele é dono de tudo e a negrada tem que respeitá-lo e obedecer, e pior, tem negro que age assim mesmo, e isso é um incomodo para quem defende o povo, como eu, ver, ainda, negros subservientes, mesmo dentro dos seus compartimentos. Por fim, a conclusão que todo branco é racista sim, seja ativo, o que é fácil identificar, pelas suas falas odiosas, pela sua postura mantenedora de hegemonia, temos o racista passivo, o que sabe que é racista mas não admite, e o racista passivo II que, talvez, e bem talvez, não tenha a maldade racista em sua índole, entretanto, propaga o racismo em seus discursos, atitudes corriqueiras, e em todo seu ambiente, assim mantendo sua dominação branca, portanto, sem uma análise profunda, reitero que os brancos não são tão inocentes como dizem com relação ao racismo e o que um negro sofre diariamente com o racismo, mesmo que o discurso disser ao contrário, porque sua zona de conforto é prioridade e transcender a zona de conforto não é para qualquer um, há de haver uma desconstrução diária e doida, e a preparação para isso é demorada... Ramakrishna Ramos

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